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Este texto traz uma reflexão sobre o tema Arte Digital e o emprego de Inteligência Artificial nas artes visuais e também aborda sobre quais profissões são mais afins a este tipo de ferramenta.
Como já percebemos, hoje vivemos numa época de substanciais mudanças, sejam comportamentais, tecnológicas, aceleração de pensamentos, etc. e no mundo das artes visuais não poderia ser diferente. Apesar de ainda convivermos com atividades artísticas convencionais e/ou mescladas com artes digitais, mais recentemente estas estão sendo fortemente influenciadas pelo emprego da inteligência artificial, o que faz surgir todo tipo de discussões sobre a sua aplicabilidade. Assim que, aproveito a ocasião para transcorrer um pouco sobre meu trabalho e questionar se foi uma escolha acertada trabalhar com Arte Digital. (http://artecontemporanea.com.br/arte-digital-o-despertar-a-pesquisa-o-encantamento/)
Nos últimos 18 anos venho trabalhando com Arte Digital na criação de minhas obras de arte. Utilizo softwares personalizados e viso uma diferenciação no processo, gerando complexas imagens, e buscando a inovação pictórica e visual. Muitas obras já passaram por países como: Áustria, Bélgica, Brasil, Colômbia, Espanha, Estados Unidos, França, Geórgia, Italia, México, Perú, Portugal, República Dominicana, Suécia, Suíça e Taiwan, constando inclusive do acervo de muitos museus destes países. As obras são produzidas sem muito alarde e direcionadas a um público mais eclético e curioso quanto a técnica, mas não menos sensível aos resultados.
Em 2021 tive a grata surpresa, e a honra, de receber a proposta da aluna de mestrado –Sandra Regina Bastos–, estudante no Programa de Pós-Graduação em ARTES, na Universidade Federal do Espírito Santo, Vitória/ES, Brasil, para que minha carreira profissional, produção artística e respectivas técnicas fossem analisadas e apresentadas em seu trabalho de final de curso, dentro da Disciplina: Intersecções Digitais na Arte e na Cultura – sob orientação do Prof. Dr. David Ruiz Torres.
A abordagem do trabalho de Sandra, embalada no desenvolver de tecnologias de interação e comunicação, com fins diversos, incluindo-se a expressão, estímulos, educação, sociabilização e transformação social, buscou conhecer e interpretar minhas obras digitais desde sua origem, passando pelo processo criativo, configurações e cores, e também na forma de reprodução, seja através de mídias físicas e/ou mesmo, quando digitais para serem utilizadas em ambiente simulado.
Das muitas entrevistas e acesso ao material fornecido para pesquisas, Sandra apresentou em video-aula o Material: “ARTE DIGITAL – TRILHA DE DESIGN- Imaginação com arte ou Arte com imaginação” – (Fig.1).
Quanto ao trabalho final, o parecer dos discentes do curso e principalmente a avaliação do Professor Orientador foram as melhores possíveis, assim que, em 2022 Sandra me procura novamente para novo trabalho, agora na Disciplina obrigatória: Laboratório em INTERARTES I. A proposta aqui era desenvolver uma Exposição Virtual, em formato Tour Virtual, empregando ferramentas adequadas para a concepção e passeio dentro de um espaço em 3D, e ainda outro material com a interação do usuário em visão de 360º.
Vinte e três obras passaram pela curadoria, as quais posteriormente foram tratadas no intuito de associá-las às tecnologias e aos recursos digitais utilizados na criação dos espaços virtuais especificados. Como resultado, Sandra apresentou um Vídeo de 55 s onde se passeia pela Mostra “Traços, linhas e formas: conexões com o virtual” na Galeria Sandra Bastos (SB). Do material produzido seguem:
Passeio pela Galeria SB
O passeio é um tanto rápido, devido à limitação de tempo para a apresentação do trabalho final. Contudo, pode ser apreciar o cuidado com que tudo foi projetado. (Nota: Ativar o som).(https://tinyurl.com/n5fj8n87)
Tour 360º pela Galeria SB
A visualização da Galeria SB, em 360º, foi desenvolvida para apenas quatro espaços, pois a intensão era mostrar a funcionalidade do processo dentro do Projeto. (https://tour360.meupasseiovirtual.com/036967/149484/tourvirtual/). A titulo de ilustração seguem algumas imagens dos espaços gerados. (Figs. 2 – 5)
Fig. 5 – Vista de um dos espaços da Galeria SB. Projeto Sandra Bastos
Uma instituição de ensino, e de pós-graduação, voltada às artes visuais, deve manter-se atenta não somente ao cerne de suas formações, como também o de permitir aos alunos, à parte da profundidade de conhecimento, em suas próprias áreas de formação, a livre discussão em temáticas diversas e promover a expansão dos pensamentos. Um campo fértil à imaginação e à criatividade traduzindo-se em trabalhos de fim de curso orientados, como os aqui produzidos pela pós-graduanda Sandra Bastos, mas também o de possibilitar que estes voltem os olhos para o futuro intuindo-lhe as possibilidades do mercado emergente.
Enfim, a escolha em se trabalhar com Arte Digital foi acertada?
De minha parte posso dizer que foi acertada, pois no período de 18 anos, mantive uma constância de produção, e obviamente evoluindo conforme avançaram as técnicas e softwares, não só para as artes digitais, como também, para aplicações científicas diversas utilizadas de forma híbrida. Trabalhar com artes digitais me permitiu construir um considerável acervo de obras, o qual não seria possível de outra forma. Foi certa ainda, pois com a adoção das ferramentas digitais houve uma diferenciação nos resultados, quanto a forma e também na estética, muitas vezes com cenários de outras realidades, muitas vezes futurísticas. Ademais de tudo ainda há de se considerar a facilidade de divulgação e apresentação das obras em espaços culturais longínquos sem a necessidade de um envio físico das mesmas, e isto promoveu o acolhimento de minhas obras em espaços culturais que sequer sabia da existência.
Por parte da pós-graduanda acredito que também foi acertada, pois ao decidir estudar, experimentar e adentrar no rumo das “Interseções digitais,” esta, ademais dos conhecimentos profissionais pré-existentes em arquitetura, procurou trabalhar com outra arquiteta, tal qual o meu caso, cujas obras desde sua geração até sua exposição passaram por etapas, em sua maioria, de forma digital. Isto produziu um diálogo mais atualizado, fazendo com que houvesse uma maior sinergia entre as partes. Ademais, a infraestrutura de um curso de pós-graduação, com um orientador auxiliando e dirigindo a mestranda, aos pontos de interesse da disciplina, certamente lhe abriu a mente para um contexto maior, uma nova realidade, que lhe conduzirá a novos desafios profissionais.
O que vem pela frente?
No meio das artes visuais, ainda hoje, em pleno ano de 2023, há uma certa discriminação quanto à arte digital, mas que vem, aos poucos, sendo superada, uma vez que muitos editais de artes já abrigam esta técnica. Agora, com o rápido desenvolvimento das tecnologias de informática, e o lançamento oficial dos sistemas de Inteligência Artificial (AI), no final de 2022, a operacionalização e análise de bancos de dados, e a obtenção de diversos tipos de saída de informações, sejam em textos ou imagens, passamos a ter esta nova ferramenta ativa que nos brinda a novos desafios.
Hoje convivemos com a necessidade de mídias dirigidas para usos no Metaverso, ou mesmo, em outras aplicações que requerem um apelo mais criativo. O jeito de “fazer arte” tem se transmutado com o emprego da AI incorrendo em uma real revolução no setor criativo. Há uma mudança radical quanto a forma, a técnica e o estilo resultando numa criatividade inusitada e surpreendente, gerando um mundo de novas possibilidades capazes até mesmo de nos superar.
Desde 2022, ocorre uma corrida para o domínio das ferramentas/sistemas de AI, e cabe aqui a observação, de que para quaisquer áreas do conhecimento, uma máquina não opera sozinha, ela necessita de um “piloto”, surgindo então uma nova profissão, a da “Engenharia de Prompts” que trata de pessoas que saibam interagir com as máquinas e a fazer perguntas certas com especificações do necessário e saber ainda qual o resultado esperado. Busca-se com isto resultados mais precisos e produtivos. Na criação de imagens, por exemplo, não é diferente, as mesmas serão geradas por algoritmos e para isto o Artista deve saber conversar ou passar instruções adequadas às interfaces. Nada sai de primeira e geralmente há de se refinar, editar e iterar os prompts para um melhor resultado. Obtidas as imagens, há de se proceder uma seleção destas, dentro da narrativa e, certamente, será necessária passar por outras etapas de melhoria ou ajustes quanto a textura, cor, luz, forma, enquadramento, nitidez, etc.
Os bancos de dados de imagens, utilizadas atualmente, estão sob domínio de Stable Diffusión, MidJourney, DeviantArt, DALL-E 2, e outras, com a disponibilização de uso, em sua maioria de forma paga, onde usuários ativos, ou mesmo curiosos, podem através destes vislumbrar novas oportunidades de negócios. Lembrar, entretanto, que para trabalhar ou vender o produto gerado, há de se ter licença específica a cada tipo de uso dos fornecedores.
Vem aqui o dilema de muitos, – A quem se aplica tais tecnologias? À geração Baby Boomers, X, Y ou Millennials, Z e/ou Alfa? Ou mesmo, a que profissões? Não importa qual a idade, mas pode-se dizer que em sua maioria são pessoas ligadas à construção civil, design, tecnologia e programadores. Os que dispuserem de maior conhecimento artístico, incluindo história das artes e artistas mais representativos, trabalharem com design, fotografia, tratamentos de imagem, etc. terão melhores resultados. Os que se dedicarem ou se especializarem em AI poderão trabalhar como diretores de artes, orientadores, ou mesmo produtores nas áreas de marketing, artes visuais, projetos, moda, web, fotografias, vídeos, etc.
Esta revolução, abriu às portas para um turbilhão de dúvidas sobre os limites éticos quanto a utilização de banco de dados de imagens de terceiros, principalmente dos que requerem licença de uso, quanto a real autoria e possibilidade de venda, etc. dúvidas estas devido a falta ou inexistência de leis adequadas para este ou outros tipos de abordagens. Sem adentrar no mérito das substituições de pessoas por máquinas, e nas polêmicas, que são muitas, o arremesso foi lançado e já não há como parar este avanço da AI. As oportunidades são muitas e a esta altura não vale somente a reprovação, por reprovação, quanto ao uso de tais tecnologias.
Em nossa sociedade, sempre existirão pontos positivos e negativos, quando da adoção de tecnologias com base em AI, e o “homem” deverá ajustá-las dentro de suas necessidades. Com as artes se passa o mesmo, ainda conviveremos com as artes tradicionais e com as artes geradas por softwares diversos ou mesmo através dos algoritmos. Há de se pensar em parceria com as máquinas, saber como utilizá-las, até mesmo como uma ferramenta de ampliação do pensamento e criação, sabendo que isto nos possibilitará sobressair de nossas próprias fronteiras e sensibilidade.
Em última análise, a escolha entre acessar e produzir Arte através da AI / digital ou tradicional dependerá das necessidades e preferências específicas de artistas, designers e clientes. É provável que os meios de produção/criação continuem a prosperar, ou mesmo coexistirem utilizando uma combinação de técnicas tradicionais alimentadas por AI para criar trabalhos atraentes, visualmente impressionantes e sob novas perspectivas, abrindo espaço para novas interpretações e discussões.
Seguindo a ordem de cima para baixo e da esquerda para a direita, teremos: Palavras básicas consideradas na consulta: imagem colorida, em estilo surrealista e com animais diversos.
Obra 1 -Pipas, sol a pico, cenário com mar. / Obra 2 – Árvore com pipas, cenário no entardecer. / Obra 3 – Árvore, cenário ensolarado. / Obra 4 – Girafa com fantasia, cenário com céu azulado, nuvens. / Obra 5 – Árvore com pipas, cenário entardecer azulado. / Obra 6 – Árvores, animal trabalhando, cenário azulado sem nuvens. / Nota: As especificações não foram exatamente nesta ordem.
Contato: Artista Visual Cleusa Rossetto / cleusa.rossetto.art@gmail.com